ARKORA - uma banda de músicos a sério


Da esquerda para a direita:
Kisó, Raul (Houss), Ângelo e Ricardo
Não se trata de nenhuma provocação, este título. Longe de mim para sobrevalorizar alguns músicos em detrimento doutros. Respeito muito o trabalho de todos os músicos, especialmente os de Cabo Verde. O facto é que minha admiração é maior par os que trazem novidade, que são criativos, atrevidos. E ARKORA é um grupo de músicos que têm disso até para oferecer.

Na fotografia acima falta um desses talentos – Orlando Pantera que, infelizmente, já não se encontra entre nós. São eles então A (Ângelo – guitarras, teclados, arranjos) R (Ricardo de Deus – piano, teclados, arranjos) K (Kisó Oliveira – baixo, contabaixo, arranjos) O (Orlando Pantera – voz, guitarra +) RA (Raul Ribeiro – percussão, bateria). Quando surgiram tocavam essencialmente música de Orlando Pantera. Havia, no entanto algumas músicas dos outros elementos. Era uma música rica e nova. Tal como Katchás tinha transportado o Funaná do ferro e gaita para os instrumentos eléctricos, Pantera fez com que o Batuque e a Tabanka ganhassem uma nova sonoridade. A música de Pantera era única e demonstrou uma certa liberdade musical que jamais tinha sido visto em Cabo Verde, mesmo com as grandes passagens e experiências de grupos como Voz de Cabo Verde, Bulimundo, Finaçon, etc. É que para além da música e da letra ser muito boa, houve um grande suporte desses magníficos músicos que, com a sua apreciação e conhecimento da chamada world music, do jazz e de outros géneros, incluindo um certo domínio sobre a música cabo-verdiana, fez com que a música dos ARKORA se tornasse inconfundível, servindo de referência e influência para muitos que hoje dão ao luxo de recusar que não foram influenciados pelo Pantera.

Porém não quis o destino que os ARKORA gravassem o seu primeiro trabalho como banda. Assim, a música de Orlando Pantera hoje está um pouco espalhada por aí e interpretada por outras vozes. Dessa música, apenas alguns registos feitos nos festivais de música, nos ensaios, no Tex, no Clube Náutico…

Mas os ARKORA ainda continuam, mesmo sem o Orlando e seus elementos fazem obrigatoriamente parte da referência da nouvelle vague da música cabo-verdiana. A história dos ARKORA continua com a Mayra Andrade (foram eles que receberam o prémio da Francofonia – o primeiro da ainda desconhecida Mayra Andrade), estiveram em projectos como Cap Vers l’enfant, Cap vers les autres, Ayan etc. acompanhando Mayra Andrade, Princesito e Tcheka, ou ainda trabalhos com artistas como Djinho Barbosa ou Teté Alhinho. O sucesso deste último deve-se, sem dúvida, muito aos elementos desse grupo e, mais tarde, ao Hernâni Almeida. Tanto que o mais recente trabalho do Tcheka (sem ARKORA e produzido pelo grande Lenine) ficou muito longe dos sucessos dos dois anteriores álbuns.

Muitos dizem que a música de Tcheka, um dos da “Geração Pantera” é sucessora da música de Pantera. Pode-se até criar uma certa confusão, pelo facto de serem os mesmos elementos envolvidos. Mas nota-se uma diferença enorme, tanto a nível da poesia, da construção melódica e harmónica, enfim muita coisa que o mesmo grupo conseguiu estabelecer muita diferença.

Penso que, depois de várias experiências, participação em festivais e certames internacionais de música, os ARKORA não devem nada a ninguém, pelo contrário, Cabo Verde deve muito aos ARKORA, por terem ajudado a música nacional se tornar ainda mais rica. Falta sim, um álbum só dos ARKORA. Da banda, só um elemento tem um trabalho a solo – o Ricardo de Deus. Mas como banda, precisam de um álbum que coroe, de forma definitiva, esse magnífico trabalho que já tem sua marca própria.

Longa vida ao Ângelo, ao Ricardo, ao Kisó e ao Raul (Houss).

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