Crianças do Rebolation





De repente ressurge aquela magnífica vontade de escrever alguma coisa. Confesso que, por razões várias, durante muito tempo não estava com muita vontade de seguir com este blog. Uma dessas razões é a de estar muito desgostoso com um punhado de coisas, inclusive a situação em que se encontra a minha ilha e a apatia e conformismo que nós, seus ilustres habitantes, continuamos a revelar.

Tenho escrito alguma coisa, mais ligada à minha vida universitária, no comunicare, mas tenho que tentar arrumar a minha casa. Foi então que veio, a propósito do dia de hoje - dia internacional da criança - escrever uma breve reflexão sobre a nossa realidade, ou melhor a realidade desse "mundo infantil" que nos rodeia.

Digo então que sinto alguma nostalgia quando lembro da minha infância e da infância de muitos outros cabo-verdianos que se seguiram a mim. Podem até achar que sou já um dinossauro, mas não. Nasci há dias, precisamente em 1971. E de lá para cá muita coisa mudou. Quase toda a gente tem televisão. Há TV a cabo, as antenas parabólicas estão agora mais acessíveis, a internet está mais barata (mas caro o suficiente para muitos que têm real necessidade não terem acesso a ela) enfim, o mundo do espectáculo está cada vez mais a entranhar nas nossa vidas. O facto é que esse mundo roubou muito aquela essência ingénua da meninice. Fui hoje assistir a actividades da escola do meu filho de 11 anos e reparo que, no momento do baile que todos nós sempre ansiámos, as músicas agora são bem diferentes. Se há alguma censura na RCV e noutras rádios para não passar músicas como "Bói de picapêl" (lembram-se? "Oi, jás pôl lume..."), aqui na escola as crianças vibram-se com músicas do género "Jál escoá ma titio", com versos bastante pesados como "Dondê que bsôt ta sinti sábe". As músicas da Xuxa ficaram para trás e o Festival dos Pequenos Cantores já não tem aquela atenção que tinha anteriormente. E até que oiço as crianças a cantarem o que percebem do inglês dos Black Eyed Peas em "I've got a feeling". Ficam ainda mais eufóricas ainda quando ouvem o Hit da hora - Rebolation. Lindo... Quem se lembra ainda de "Sara Sarita" ou da voz da magnífica Ritinha Lobo a cantar "Cabo Verde ê d'nôs" ou ainda "Góte na tocatina" da Magui Martins.

O Ministério da Cultura, bem como o da Juventude e as entidades nacionais e organizações de apoio à criança deviam pensar que a cultura, a arte e sobretudo a música e o teatro são instrumentos poderosos de comunicação e educação que podem, muito bem, traçar um melhor caminho para as nossas crianças. Caso contrário tornar-se-ão adultos prematuros que não viveram melhor sua infância e adolescência. No pior dos casos teremos no futuro gente grande a brincar de adultos com gadgets infantis, ou a brincar mesmo com a vida. Estarei a ser um pouco exagerado? Não será este um caso digno de reflexão?

Os pais têm aqui um papel preponderante na formação da personalidade dos seus filhos. Se nada fizer vai ouvir falar cada vez mais de estudantes irresponsáveis e imaturos nas universidades, profissionais frustrados, maior número de famílias infelizes e destruídas e pessoas sem capacidade de construir o mínimo para alguma felicidade. Ando a reflectir muito sobre isso e garanto que se todos o fizessem haveria menos delinquência, droga, prostituição, DST e haveria mais respeito pelos outros.

Voltarei em breve

Comentários

Et disse…
Olá Neu,
Ainda bem que voltou com os seus posts no B de T que falam da realidade tal como ela é... Nacional.

Vou ler os posts do COMUNICARE, já me tinha esquecido deste sítio ... estou desactualizado.

Continue a ter um bom dia!
Et.

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