Soncent ta kanhambra!


foto: Nuno André Monteiro



Soncent ta kanhambra! - disse uma ilustre amiga minha, ao termos uma breve conversa sobre a situação cultural, sobretudo do teatro do Mindelo.

O facto é que neste momento os grupos mais conhecidos da praça estão quase todos a "descansar". Não se fala em projectos e menos em ensaios. O Atelier Teatrakácia parece ter desaparecido há algum tempo, vendo um dos seus grandes actores actuar mais para o Grupo de Teatro do Centro Cultural Português, cujo mentor está em Portugal a estudar. A SARRON.COM tem vários elementos a estudar, espalhados pelas várias instituições e universidades de São Vicente, enquanto que outros se vêm detidos pela teia da vida profissional ou familiar, a Companhia de Teatro Solaris revelou-se incapaz perante a ausência do seu Guru Herlandson (Kutch) e o TIM, um dos grupos que revela ser dos mais unidos na cena teatral mindelense deve estar em período de reflexão ou pré-produção.

Quem são os grupos sobreviventes?
O Grupo do Centro Cultural do Mindelo, que tem por trás a Josina Freitas, e que será o único grupo a representar Cabo Verde no FESTLIP este ano (acho que mesmo antes dos resultados já deviam saber da notícia), o Grupo de Teatro Craq'Otchod com um trabalho diferente e que ainda rema contra a maré o Grupo dos Alunos do Liceu José Augusto Pinto (onde há projectos de excelentes actores), e outros que surgem ou continuam a fazer um trabalho que algum dia parará por razões profissionais, académicas ou familiares.

Essa luta para que o teatro no Mindelo continue de pé é bastante injusta. Senão vejamos:

1. Há apenas um grupo com um local ideal para ensaios - o Grupo de Teatro do Centro Cultural do Mindelo - no Centro Cultural do Mindelo, incluindo o palco (diga-se de passagem, um espaço pelo qual todos nós que fazemos teatro e também somos contribuintes pagamos), enquanto outros grupos procuram desesperadamente um espaço para ensaiar;

2. Não há apoios nem incentivos e muito menos condições logísticas para que os grupos façam um bom trabalho (apenas o fazem por amor à arte);

3. Há um Festival Internacional de Teatro (graças a Deus) que é uma autêntica escola de teatro e de convivência, mas os grupos nacionais ou mesmo locais revelam-se impotentes para realizar um certame como o "Março Mês do Teatro";

4. Há um Curso de Iniciação Teatral que já sabe a muito pouco mas, mesmo assim e ignorando a sua procura, há quem queira ver seu desaparecimento definitivo;

5. Há um reconhecimento pelo Mindelact, mas não há um reconhecimento efectivo pelo trabalho dos Grupos de teatro e pelos fazedores de teatro (a não ser pelo próprio Mindelact e pelos próprios colegas de teatro);

6. Não há e nem parece que venha a existir nos próximos tempos projectos no sentido de desenvolver o teatro nesta ilha de actores, nomeadamente ignorando que precisa-se urgentemente de uma sala de espectáculos condigna com espaços para ensaios e formação;

7. Não há uma aposta na Educação para a Cultura (o que poderia começar na instrução primária e terminar no ensino universitário).

Fora o Teatro, não se fala muito em bons concertos musicais como se via há poucos anos atrás, a cultura cinematográfica soluça por alguma coisa, mas de forma impotente (afinal nem uma sala de cinema temos) e sai governo entra governo há sempre uma grande preocupação em desenvolver a Cultura na Ilha de Santiago (de louvar) em detrimento da de São Vicente (de lamentar).

Alguém já tinha dito que essa de São Vicente ser a "Capital da Cultura" era algo ultrapassado. Tirando a nossa vontade e a nossa forma natural de viver a cultura e a arte, daria agora razão ao fulano.

São Vicente saiu do marasmo para entrar numa decadência a pico.

A exagerar, eu?

Prestem atenção nos próximos capítulos dessa série macabra!

Comentários

Unknown disse…
É preciso fazer mais, meu caro.

PARAR DE LAMENTAR E FAZER.

Só uma nota: o Fonseca Soares tem actuado principalmente no TIM e não no Grupo de Teatro do CCP, onde nos últimos anos apenas entrou na peça «No Inferno».

Vê o outro lado da moeda: houve sim, em S. Vicente, um Março - Mês do Teatro, com peças e muito teatro. Foi, inclusive, montada uma peça dedicada ao Éden-Park, com participação de elementos de praticamente todos os grupos de teatro que referes.

Houve, durante dois meses, várias pessoas do teatro empenhadas na produção de um filme 100% nacional, nomeadamente ao nível do elenco. Vai ao site do Teatrakácia e terás muitas informações sobre esse filme, que deu muito trabalho a muito boa gente.

O TIM continua activo, mesmo que com menos visibilidade. Continua a fazer teatro para crianças. Apresentando projectos de desenvolvimento para a educação através da expressão dramática.

Foram plantadas muitas sementes no teatro em S. Vicente. Vamos regar as plantas, plantar outras, ou vamos nos limitar a ver essas plantas crescer e morrer?

Os gritos de alerta são importantes, mas devem estar acompanhados de propostas efectivas de soluções concretas, de propostas de medidas para que as coisas melhorem.

Abraço

JB
cauca disse…
Meu caro NEU, fico muito feliz por ver-te a tocar nesta tecla, e com esse realismo que me entriste-se só de saber como vão as coisas. Mas é assim, não podemos andar a tapar o sol com a peneira. Quanto ao Grupo do CCM, eu penso que se deveria debruçar sobre a sua existencia/legalidade, tendo em conta que o CCM, deveria ser um espaço para promoção, incentivar, e não um espaço que cria o seu proprio grupo, usurfruindo dum espaço que deveria ser de todos em pé de igualdade, e ainda fazer aquele papel que andavamos a condenar o CCP e o MINDELACT, que era de estar sempre em vantagem o Grupo mais proximo ou seja o CCP. Eu concordo em parte com o JB, mas penso que todos temos culpa desse marasmo, os próprios grupos estiveram muito tempo fechados em si mesmo, e agora estão sendo vitimas do próprio "egocenteatro"

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