A festa do teatro foi fantástica


Mindelact 2008

Já é pela terceira vez que escrevo sobre minha opinião acerca do Festival Mindelact. Porém, este ano com um gosto especial, por fazer parte, pela primeira vez, da realidade do Boca de Tubarão.


Nonada - Companhia do Feijão (Brasil)

Afinal, é a festa do teatro

Começo por dizer que o Mindelact 2008 foi o que não poderia deixar de ser – uma grande festa do teatro, da sã convivência, e uma autêntica lição de partilha, entrega, amor e, sobretudo, grande profissionalismo.

Lembro-me de, no ano passado ter tecido algumas críticas no sentido de que a convivência passou a ser mais restrita e que os responsáveis pelo Mindelact poderiam fazer algo mais no sentido de promover uma maior aproximação entre companhias. Ora, não sei se minhas críticas poderão ter surtido efeito, porque isso melhorou consideravelmente. Diria mesmo que foi fantástica a confraternização entre os participantes e demais envolvidos no festival. Embora o bar do Centro Cultural do Mindelo esteja situado vários degraus acima com acesso através duma escada desagradável, houve a iniciativa de trazer um balcão para perto da entrada do Auditório, para vender produtos de consumo rápido como água e doces.

O pátio foi mais animado depois dos espectáculos principais e do Festival Off, com música, muita conversa entre companhias e agentes teatrais, tendo sido ouvido mesmo música ao vivo no último dia do off.

O corredor que era alegremente decorado com pinturas e cartazes de espectáculos teatrais e dos vários festivais Mindelct, e que actualmente parece um desgostoso deserto, esteve mais animado com a iniciativa Kanalim, em que foram expostos pinturas de chalé Figueira, fotografias de vários espectáculos teatrais e, nos últimos dias, (imaginem a criatividade) uma cama com a projecção de um pequeno filme com alguns dos mais famosos beijos da história do cinema.

É de realçar também as actividades paralelas desenvolvidas, entre as quais a ante-estreia do documentário Kontinuason e da estreia absoluta de um outro documentário Fazê de conta, de Patrícia Poção, e sobre o festival Mindelact de 2007. Também lembrar das diversas acções de formação levadas a cabo, desde a interpretação à dramaturgia, passando pelo teatro infantil e teatro gestual, destacando, no entanto, o workshop sobre quietude expressiva e caracterização ministrada pelo recordista mundial Staticman, que deu origem a um pequeno espectáculo com novas estátuas encarnadas pelos formandos. O teatro de rua também fez parte da festa, tendo sido apresentada um exercício cénico, à entrada do Centro Cultural do Mindelo, com alunos de um grupo da italiana Veronica e seus companheiros de luta que têm feito um trabalho de louvar entre Santo Antão e São Vicente. Mas o mais espectacular do teatro de rua foi apresentado pela Companhia do Feijão, vinda São Paulo para nos deliciar com as tradições daquele país irmão.

Embora tenha sido realizada uma sessão de abertura bastante requintada em termos protocolares, bem representada e também bastante mediática, senti a falta de algo muito importante que já vi noutros festivais – aquele desfile pelas ruas do Mindelo, numa grande chamada de atenção aos mindelenses, anunciando o começo de mais um festival internacional de teatro.

O encerramento foi aquela apresentação, como sempre, de todo o staff que fez parte do certame, os agradecimentos, etc., desta vez com a ilustre presença do Ministro da Cultura que fez suas honras, congratulando a Associação pelo magnífico trabalho que tem feito e anunciando o reforço protocolar entre o Mindelact e o MC. Mas mais importante foi a confraternização no pátio que continuou entre danças, conversas e planos para o Mindelact 2009 que, segundo João Branco, já começou.

Marcelo sem palavras II - Marcelo N'Dong (Guiné Equatorial)



Uma programação principal diversificada

Há quem diga que cada vez há melhores. Eu limito-me a afirmar que o festival Mindelact atingiu um patamar que não permite que a qualidade diminua. Há anos que o Mindelact tem apostado sempre na diversidade. Já em 2007 tinha assistido a espectáculos fenomenais. Este ano não fica para trás. E já não consigo estabelecer, em termos de qualidade dos espectáculos, um elo de comparação. Para mim não houve espectáculos maus neste festival. Diria sim que houve alguns mais conseguidos do que outros, pelo que consegui destacar muito bem os meus preferidos. E vendo uns e outros, posso sentir que nunca vou conseguir ver “o espectáculo perfeito”. Isso, na realidade, não existe. Mas, em minha opinião muito pessoal, o festival, assim como terminou, começou de uma forma bastante morna. O Raiz Di Polon é uma companhia de renome e de qualidade inquestionável, porém o espectáculo apresentado não foi digno de se chamar de um grande espectáculo. E talvez a expectativa que estava depositada nesse espectáculo fez com que no final se pairasse no ar uma clássica interrogação – “Acabou?”. Não que tivesse sido um mau espectáculo, principalmente a segunda parte interpretada pela Bety Fernandes teve um início espectacular e o desenvolvimento foi masi conciso na transmissão de uma mensagem. Talvez fosse apenas o peso do nome “Raiz Di Polon”. Mas se começou morno as coisas se aqueceram com a apresentação do Stan do britânico sediado em Holanda, Jim Barnard. O Kabul Post, em tom de humor, classificou o espectáculo de “vulgar e desnecessário e que contribui para a má fama das marionetas”. Um trabalho simples mas muito bem conseguido, uma vez que só se lembra do manipulador quando o boneco Stan começa a voltar para trás e pergunta a nós, público, se nunca tivemos a sensação que sempre há alguém atrás de nós a tentar manipular-nos. Era essa a real mensagem do espectáculo, e não as dezenas de palavras ilustradas com um “fuck” ou “fucking” que fazia muita gente rir.

O Auditório da Academia de música Jotamont riu largamente com o Marcelo N’Dong apresentando o seu Marcelo Sem Palavras 2. Sobre esse espectáculo só digo “simplesmente fenomenal”.

Mais expectativas estavam depositadas sobre o Grupo de Teatro do Centro Cultural Português – IC, para a sua mais nova produção, Máscaras, aqui apresentado em estreia absoluta. Afinal trata-se de uma co-produção com uma das mais valiosas companhias artísticas do país (CompanhiaRaiz Di Polon) Foi pura poesia. Não falo somente da poesia do texto. Falo também da poesia na interpretação bem conseguida pelo Arlindo Rocha, a Romilda Silva e sobretudo pelo João Branco (não se assume como o actor mas voltou a surpreender), da poesia cenográfica e plástica conseguida pelo Bento Oliveira, o Artur e a Bety Gonçalves, pela poesia da luz do Anselmo e do César. Ainda sobre o trabalho plástico da peça, digo que as máscaras foram uma grande obra de arte e benificiaram-se ainda mais dos movimentos e do guarda roupa, principalmente com a coreografia do Mano Pretu e da Bety Fernandes. Não falo do som porque estive profundamente envolvido. Deixo que os outros falem do meu trabalho. Embora fosse fora do comum, a peça tocou-me e penso que terá tocado qualquer pessoa que tenha poesia na alma e vê o teatro mais para a frente. Senão não teria ouvido uma das maiores ovações dos últimos tempos (a última vez que ouvi tantos aplausos foi em Biografia dum Criôl). Se calhar foi a peça mais aplaudida do Festival.

Máscaras - Grupo de Teatro do CCP-IC/Companhia Raíz Di Polon (Cabo Verde)


Falo agora dos angolanos que já nos acostumaram com peças de grande qualidade. Este ano uma companhia estreante no Mindelact – Companhia Henrique Artes. Uma das lições de interpretação deste festival. E, embora fosse um espectáculo com cenas e linguagem que poderiam chocar pessoas mais sensíveis, o Hotel Komarka divertiu-me muito e transportou-me para uma dura realidade vivida pelos presos que contam suas mais diversas experiências e de sua “inocência”. Penso que Angola é um país que já conquistou Cabo Verde pelo teatro.

Hotel Komarka - Companhia Henrique Artes (Angola)



E se os angolanos conquistaram os mindelenses, isso já tinha sido conseguido Há muito pelos brasileiros. E este ano foi a vez de outra companhia estreante – a paulista Companhia do Feijão. Depois de um magnífico espectáculo em plena Praça Nova, foi a vez do Nonada. Uma peça bem montada, fantasista, com um texto lindo assente num tema bastante interessante. A cenografia, quanto a mim, das mais lindas que vi neste festival, ao lado de Ptolomeu e Máscaras. A interpretação é digna de tirar o chapéu, com uma entrada emblemática do Guto Togniazzolo e uma actuação soberba da Vera Lamy. Mas guardo para o fim o que mais me atraiu – a soberba iluminação (claro, aliada à cenografia e os efeitos especiais) e a sonoplastia, parte gravada, parte interpretada ao vivo (só repetida no festival Off em Nha Rosa de Monte Verde). Eu assinei duas bandas sonoras (Máscaras e Nha Rosa de Monte Verde), das quais não ouso pronunciar), mas penso que Nonada conseguiu a melhor banda sonora do festival.

A Companhia C’Art, vinda de Itália, apresentou Tranquilli! Com André Casaca. Adorei o espectáculo desde o princípio, mas penso que o fim foi menos feliz. Muito “fordunço” para pouco tempo. Mas foi muito apreciado e aplaudido, sobretudo pela miudagem. Aquele bombardeamento ao palco foi fenomenal, só que se tornou numa desnecessária batalha campal. Contudo os recursos multimédia, a ausência de som em várias cenas e a interpretação do actor foram excepcionais.

Ouvi falar muito, bem e mal de Cordão Umbilical, a única peça que não assisti, mas uma coisa digo: é possível que algo possa não ter corrido da melhor forma, o que é normal quando se trata de uma estreia absoluta, mas acredito no trabalho do Atelier Teatrakácia e, se não foi um bom espectáculo (facto que não acredito), com certeza para a próxima será melhor.

Falo agora de um dos melhores espectáculos que vi neste festival – Ptolomeu e a Viagem de Circum-navegação. Uma estreia absoluta com pequenas falhas (quase que não se nota), principalmente na mudança de cenário, de luz e figurinos, como já disse, normal para uma estreia absoluta, mesmo de uma experiente companhia teatral como o Teatro Art’Imagem e um pouco extensa (mais de hora e meia). Mas tudo é colmatado com um cenário bastante funcional e vistoso (dos mais bem conseguidos), uma banda sonora simples mas eficaz e uma iluminação à altura. O que mais se destaca neste espectáculo é e interpretação. Já tinha visto o Valdemar Santos actuar com o João Paulo Brito em Ratos e Homens e aqui não deixou nada a dever ao personagem da antiga actuação. Quanto ao Flávio Hamilton digo que, sem margens para dúvidas, foi o melhor actor do Mindelact 2008. Espectacular! Com formação inicial no Curso de Iniciação Teatral do Centro Cultural Português, hoje Flávio é uma referência para qualquer actor cabo-verdiano. Tchalê Figueira escreveu um livro bastante forte e que nem todo macaquinho consegue chegar ao fim. Mas a história é apaixonante e a peça teatral beneficiou bastante essa obra. Com certeza o livro irá agora ser mais comprado e apreciado.


Ptolomeu e a Viagem de Circum-navegação - Companhia Art'Imagem (Portugal)


Para encerrar tive a ocasião de assistir a Um homem, uma mulher e um frigorífico pelo projecto de fACTO, um dos mais fracos espectáculos do certame. Sei até que não é apenas uma opinião minha. Não seria para menos, uma vez que penso ser dos mais fracos textos do Mário Lúcio Sousa, que tem sido um dramaturgo bastante ousado e com um trabalho de qualidade. Penso ainda que o João Paulo Brito terá feito aqui um importante trabalho, mas não foi muito beneficiado, nem pela interpretação dos actores, que poderia ter sido melhor, nem pelo próprio texto (se foi bem tratado na peça). Muitas vezes os actores esquecem-se da luz, ficando com a cara às escuras. Gostei mais do cenário. Mas devo realçar o fantástico trabalho que o Jota tem desenvolvido na capital, mostrando um teatro de qualidade e mais ousado. Parabéns, Jota.

Um Off de categoria 1

Gostei da decisão da organização em dar prioridade ao teatro nacional. O off este ano foi 100% nacional. Cinco espectáculos – dois de S. Vicente , um do Sal, um do Maio e um da diáspora. Tudo começou com o Grupo Djad’Sal que apresentou Amdjêr, uma peça escrita pelo mindelense Francisco Cruz (o nosso conhecido Buchik). E começo com uma crítica dura. O Buchik escreveu a peça dele, foi realista e a linguagem pesada é digna de uma peixeira. Mas a peça não poderia ser classificada para maiores de 12anos. Meu filho de 14 anos viu comigo e minha esposa, fiquei chocado e chateado. Mas é uma crítica que não faço apenas aqui. Falei com o Victor Silva sobre isso. A melhor classificação seria para M/16. Temos de ter cuidado com isso. Isso foi um problema que já não aconteceu com o Paulo Santos e seu Registro ao Solo que não é uma peça muito leve, mas bastante acessível para um miúdo de 12 anos. Paulo, para mim foi um grande actor. Se na programação principal destaco o Flávio, no Off destaco o Paulo. Penso que, à semelhança de O Doido e a Morte, esse espectáculo poderia andar pelo mundo.

Registro ao Solo - Paulo Santos (Diáspora)


Não vi o Off do Maio. Confesso que nesse dia estava cansado e não tinha boas expectativas para esse espectáculo. Depois ouvi que tudo tinha corrido bem. É por isso que digo que os grupos nacionais precisam se esforçar mais. Pela positiva, fiquei impressionado com o trabalho dos alunos do Liceu Ludgero Lima em Noite. Penso que o Valódia Monteiro apresentou o seu melhor trabalho depois de Psycho. Esse trabalho já havia sido apresentado, mas duma forma bastante pesada e intragável. Mas desta vez deu até para notar que havia bons talentos aí petentes.
Outro espectáculo que não posso comentar é sobre Nha Rosa de Monte Verde, em que estive profundamente mergulhado, apresentado pela minha companhia, Sarron.com. Mas ouvi muitas boas opiniões, e acho que terá corrido tudo bem.



Teatro Infantil


Ipinêspês - Teatro do Elefante (Portugal)



Penso que já teve melhores tempos. Não há uma grande aposta no teatro infantil em Cabo Verde. O TIM que se revelara um grupo vocacionado para esse tipo de teatro, aliás daí o nome, aposta hoje também no teatro de intervenção e de cariz social. O Atelier Teatrakácia apresentou alguns projectos, mas talvez não tenha sido aposta ganha. A sarron.com já pensou em apostar num projecto ambicioso mas até ainda encontra-se amarrada. Assim, o Teatrolândia este ano contou com não muitos espectáculos, passando pelas marionetas com o TIM (História de Blimundo) e a Companhia Il Baraco (Arlechino e il posto privato) e a Companhia do Vaatão (As duas Arcas). A verdadeira novidade foi a Companhia do Elefante propondo a peça Ipinêspês, apostando num género completamente novo nas nossas lides teatrais – o teatro para bebés. Também de louvar a iniciativa Solêra de porta, que foi buscar um dos aspectos importantes da nossa cultura que muito nos esquecemos ou damos pouco valor – as tradições orais.


Um público fantástico

Não há dúvida que o público mindelense é especial e está cada vez mais exigente. Dá vontade de trabalhar para esse público que verdadeiros ignorantes tratam de ignorante. Um público que destaca seus espectáculos pelos aplausos. E nota-se perfeitamente quando gosta mais, quando gosta menos e quando não gosta.



O Momento do Festival

Companhia Raíz Di Polon - Prémio Copacabana 2008


A entrega do Prémio Copacabana, patrocinado pela TECNICIL foi o momento mais importante do festival. A Companhia Raiz Di Polon foi a galardoada, sendo a primeira companhia nacional com esse mérito. Esperamos que mais companhias nacionais venham a ter esse privilégio.


Figura do Festival

Bety Fernandes - Bailarina da Companhia Raíz Di Polon


A bailarina Bety Fernades é, quanto a mim a figura do festival. Porquê? A sua companhia recebeu o Prémio Copacabana, apresentou um espectáculo a solo, participou no espectáculo Máscaras com o Grupo do Teatro do CCP-IC, participou no projecto de FACTO e ainda foi a personagem principal do documentário Kontinuason. E mais não digo!

Os melhores

- Maior destaque para o melhor actor do festival, Flávio Hamilton pela interpretação de Ptolomeu em Ptolomeu e a Viagem de Circum-navegação
- A convivência que se fez sentir no decorrer do festival
- A equipa incansável do festival


Os piores

- Elementos da Companhia de Teatro Solaris (já há pessoas que estão chateadas com alguns elementos dessa companhia que põem defeito em tudo e que inclusive não os deixam assistir aos espectáculos, revelando-se um perfeito incómodo).

fotos gentilmente cedidas por João Branco

Comentários

Unknown disse…
Neu

Não concordo nada com a classificação da peça «Um Homem. Uma Mulher e um Frigorifico» como «das mais fracas do certame». Há que ver mais além. Penso que terá sido mais uma expectativa enorme que se criou à volta do espectáculo que «pesou» na equipa. Tenho debatido aqui na Praia a razão de ser e há várias teorias. O teatro tem esse mistério, mas como sempre disse é uma arte justa. A peça tem trabalho - isso vê-se, tem muito sangue e suor de uma equipa que não tem nada a provar sobre as suas capacidades. Penso que a expressão utilizada não é a mais adequada. Vi coisas bem piores no Mindelact. Ou melhor, vi coisas não tão boas.

Sou pela positiva. Sempre.
É preciso muita coragem para dizer que a peça "1 homem, 1 mulher e 1 frigorífico" foi a pior peça do certame. Diria que é até pretensioso afirmar isso, categoricamente, sem explicar (convincentemente) porquê.

Digo-te, meu caro: vi a peça na Praia. O próprio encenador reconheceu que correu menos bem em SV. Mas uma coisa posso apostar: por mais mal que tenha corrido em SV, dificilmente será a pior prestação do festival. Primeiro: o texto está longe de ser o pior de Mário Lúcio. Eu adorei. Aliás, criticar qualquer texto de ML é preciso ter cuidado, porque, podemos não gostar deste ou aquele, mas classificar os seus textos exige algum preparo, que eu por exemplo não tenho, porquanto se trata de um intelectual destacado, quer se goste ou não. Segundo: a encenação é extremamente delicada, como é de resto toda a encenação de JPB. O texto é subtil, é cheio de ambiguidades, pelo que a encenação só podia ser de um bom encenador, para que não fosse um desastre. Terceiro: já ouvi dizer que as actuações não foram as melhores, mas mesmo assim, a mulher fez um grande trabalho a procurar aquele registo e o homem é um talento. Quarto: não é todo o encenador que se sente à vontade com uma cenografia minimalista; é preciso arte. Quinto...enfim.

Numa frase: já começo a ficar indisposto com as ondas criadas à volta deste espectáculo. Sinto-me insultado na minha inteligência, quando dizem que este é um mau espectáculo, como se não soubesse é que é um bom espectáculo. Vamos a ter ponderação, até porque se trata de um grande esforço de criação de vosso colega JPB, que entre nós (que criamos alguma coisa) das pessoas, para além do talento, com a mais vasta formação artística e técnica. Vamos a ter um pouco de humildade e ter atenção quando criticamos.
Neu Lopes disse…
Meu Caro César
O João Branco também não é de acordo. Tudo bem. Como ele mesmo diz as opiniões valem por si. É minha opinião e vale o que vale. E eu opino sobre o que vi e o que senti. Não sobre o que viste ou o que tu sentiste. O JPB é meu amigo e admiro muito o trabalho dele. E ele sabe bem disso. Admiro-o não só como encenador, mas também como grande actor que é. Não disse que o espectáculo fosse mau, mas sim "um dos mais fracos espectáculos do certame" (minha opinião). Não gostei do espectáculo no todo, e pronto. Falei do que gostei (o cenário, por exemplo), disse que entendo que o JPB terá feito um bom trabelho mas que não terá sido beneficiado. Por alguma razão o espectáculo poderá não ter corrido bem. Tenho a certeza que os envolvidos terão sentido isso. César, não me assumo nem como actor nem como encenador, mas acredite que faço teatro (e penso que não sou tão mau de todo) com muito amor e sinto na pele quando as coisas não me correm bem. Mesmo que tenha recebido os maiores elogios, vindos de quem realmente vale a pena ouvir. Muitas vezes recorri ao Jota, pela sua experiência, solicitando opiniões. Por isso não me venhas dizer, César, que tenho que ter cuidado. Sobre o Mário Lúcio. Também gosto do trabalho dele e, não sei se sabes, fui eu quem fez a paginação do livro de dramaturgia dele publicado pela Associação Mindelact. Portanto, para além de ter visto peças escritas pelo Mário Lúcio, tive a oportunidade de ler os textos dele. Não li este, pelo que fico na dúvida, mas achei os outros melhor. Não é preciso eu ser um intelectual e um ser muito inteligente para ter ou não ter essa opinião. Quanto aos actores, se ouviste por alguém que foram maus, não o transportes para mim. Lê outra vez o que escrevi. Disse que que o JPB não foi muito beneficiado pela interpretação dos actores, que poderia ter sido melhor. E não que a interpretação foi péssima ou má. Alto lá! Se estás a ficar indisposto queria imaginar-te recebendo uma crítica sobre um trabalho teu num dos jornais mais lidos do país e que não mostrasse pelo menos uma pequenino elemento que fosse positivo. Ou seja, te dissessem que esse trabalho simplesmente não vale nada, mesmo que a opinião pública seja precisamente o contrário. Não te sintas insultado, César. Aliás, se é que leste bem o meu texto, disse que para mim já não há espectáculos maus no Mindelact. Não concordares com a minha opinião é um direito teu, meu caro. Não mais que isso. Apenas um direito teu. Está mais do que claro que não tentei atingir ninguém pelo seu trabalho, pela sua inteligência, nem tampouco tive uma ausência de humildade. A humildade revela-se em quem dá e em quem recebe. Não te esqueças disso. E mais não digo.

Aquele abraço!

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