Um certo som




Ouvi, e gostei. Teté Alhinho e Sara Alhinho estão muito bem. Comecei pela pirataria, ouvindo através do mp3. Atraiu-me imenso essa ideia do título Gerasons e também o facto de ouvir mãe e filha. Como sempre, acabo por comprar o CD. Por várias razões. Para começar, o respeito pelo trabalho do artista. Depois vem a qualidade, o contacto físico (daí que ainda prefira o vinil) e ainda a informação. Ora, aí está! A informação é uma das principais razões para eu comprar um CD. Dos que tenha gostado, é claro. Ouço com atenção e quero saber quem é o artista, quem está envolvido. Desde o músico ao designer que concebe a capa, passando pelo estúdio, pelos músicos, por quem fez os arranjos, por quem faz a promoção, enfim essa magnífica máquina de arte.

Gerasons é um disco que desde sempre me encheu de curiosidade. Primeiro porque um dos envolvidos é o meu grande amigo Kisó Oliveira. O Kisó estava bastante motivado e falou-me muito do trabalho. Tive inclusive a oportunidade de ouvir um ou outro trecho. Não na íntegra, é claro. Mas a produção final estava guardada a sete chaves. Sabia de antemão que era um trabalho de uma mãe e uma filha que já conhecemos bem no campo musical.

Trata-se de um trabalho de qualidade inquestionável envolvendo músicos como Ricardo de Deus, Kisó Oliveira, Ricardo de Deus, Hernany Almeida, Mecas, Jorge Cervantes, João Ferreira, Tiago Neto, Ângelo Andrade, Fausto, Stephen Perrin, Naná Vasconcelos ou ainda Ney Bettencourt. Ou seja, razões suficientes para que, do ponto de vista musical, seja, no mínimo, um bom trabalho. A voz de Teté Alhinho já é o costume. Não há novidade na doce e grave voz que já conhecemos. Para mim houve sim uma grande surpresa de uma voz que ouvi e ainda ouço com minha filhinha – a de Sara Alhinho ainda criança para a de Sara adulta.




Composições muito interessantes, destacando uma de minhas preferidas – Nha Conversa, divididas entre Sara e Teté e outras de compositores como Tibau, Betú e Mário Lúcio. Os arranjos com rasgos de uma larga influência do jazz à mistura com ritmos e construções harmónicas muito agradáveis e bem estudadas. Um dos exemplos de como as influências, afluências e uma mente aberta pode ser útil para uma evolução saudável de nossa música.

Os arranjos, na sua maioria de Ricardo de Deus, sendo outras de Kisó Oliveira, Jorge Cervantes e arranjos base de outros músicos participantes, revelam uma certa maturidade. Nota-se também a importância do facto dos músicos se conhecerem minimamente bem. Posso mesmo dizer que as magníficas vozes de Teté e Sara seriam menos magníficas se não fosse esse trabalho de base. Não caiamos no erro de dar importância ao lead artist e esquecermo-nos por completo da base.

Penso que os músicos dispensam apresentações. De realçar a participação de três músicos do grupo ARKORA, Ricardo, Ângelo e Kisó (que traz uma novidade – o contrabaixo) do magnífico guitarrista Hernâni Almeida e a participação de instrumentos pouco usados na música de cabo verde como o violancello, o acordeon.

Não entendo tanto de música e falo apenas porque me agrada ouvir. E é sobre isso que falo. E é por isso que digo que também gostei do registo, do mastering, enfim, poderia dizer mesmo que gostei de tudo no disco. Porém não é por aí.

Ora, penso que o disco comete um grande pecado. Aliás tem uma falha enorme. Daquelas falhas que se pode pensar que não é importante, mas que, no entanto, pode ser vital para o seu sucesso. Embora a música seja de qualidade talvez inquestionável, penso que o layout do disco estraga a obra. Falo da capa (front, tray, inside tray, etc.). Não penso que tenha sido a melhor escolha. Inicialmente parece mais ser um disco de duas cantoras brasileiras sertanejas. Música romântica. Talvez música brega, como diz o brasileiro. Minha opinião… Há até fotos mais interessantes no inside book e mesmo no tray que poderiam servir de front. As flores desenhadas confundem o tema. Mas isso é o menos grave. O que reprovo é a falta de algumas informações. Há versos das letras de músicas que não coincidem com a própria música que se ouve, há instrumentos que se ouve tocar e não há informação de quem os toca, enfim coisas que não beneficiam em nada o artista que se envolve na obra. Fora isso, a ficha técnica apresenta-se muito pobre (incompleta) para um trabalho tão magnífico. Enfim, uma falha que, parecendo pequena, pode ser ainda muito grande para os artistas, incluindo a Sara e a Teté. Penso que quem esteve no layout e no trabalho de promoção devia ter ou exigir um mair profissionalismo.

Mas, vá lá, tirando isso tudo, é um dos maiores trabalhos musicais da actualidade.

Recomendo!


Album: Gerasons
Artista: Teté Alhinho & Sara Alhinho
Produção: Teté Alhinho
Produção Musical: Kisó Oliveira e Ricardo de Deus
Label: ...
Ano: 2008

Comentários

Mensagens populares